domingo, 28 de novembro de 2010

A Pineal e a Mediunidade III

 Dando continuidade ao nosso estudo sobre a pineal, verificamos que há uma recorrente e estranha insistência em se relacionar pineal à doutrina espírita, muito embora não haja, na obra de Kardec, referência à esta glândula, já que para Kardec a mediunidade seria uma faculdade espiritual, tendo como órgão o perispírito, como visto anteriormente. Assim sendo, soa-nos com muita estranheza esta relação. Mas vejamos da página http://pt.wikipedia.org/wiki/ Gl%C3%A2ndula_pineal:

Os defensores destas capacidades transcendentais deste órgão, consideram-no como uma antena. A glândula pineal tem na sua constituição cristais de apatita. Segundo esta teoria, estes cristais vibram conforme as ondas eletromagnéticas que captassem, o que explicaria a regulação do ciclo menstrual conforme as fases da lua, ou a orientação de uma andorinha em suas migrações. No ser humano, seria capaz de interagir com outras áreas do cérebro como o córtex cerebral, por exemplo, que seria capaz de decodificar essas informações. Já nos outros animais, essa interação seria menos desenvolvida. Esta teoria pretende explicar fenômenos paranormais como a clarividência, a telepatia e a mediunidade.”

         Percebemos uma destoante linha de pensamento com relação à doutrina espírita, pois, como podemos ver:
O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos elementos constitutivos do Universo, toca forçosamente na maior parte das ciências; só podia, portanto, vir depois da elaboração delas; nasceu pela força mesma das coisas, pela impossibilidade de tudo se explicar com o auxílio apenas das leis da matéria.”

“19. Acusam-no de parentesco com a magia e a feitiçaria; porém, esquecem que a Astronomia tem por irmã mais velha a Astrologia judiciária, ainda não muito distante de nós; que a Química é filha da Alquimia, com a qual nenhum homem sensato ousaria hoje ocupar-se. Ninguém nega, entretanto, que na Astrologia e na Alquimia estivesse o gérmen das verdades de que saíram as ciências atuais.”
“Apesar das suas ridículas fórmulas, a Alquimia encaminhou a descoberta dos corpos simples e da lei das afinidades”.
“A Astrologia se apoiava na posição e no movimento dos astros, que ela estudara; mas, na ignorância das verdadeiras leis que regem o mecanismo do Universo, os astros eram, para o vulgo, seres misteriosos, aos quais a superstição atribuía uma influência moral e um sentido revelador. Quando Galileu, Newton e Kepler tornaram conhecidas essas leis, quando o telescópio rasgou o véu e mergulhou nas profundezas do espaço um olhar que algumas criaturas acharam indiscreto, os planetas apareceram como simples mundos semelhantes ao nosso e todo o castelo do maravilhoso desmoronou”.

“O mesmo se dá com o Espiritismo, relativamente à magia e à feitiçaria, que se apoiavam também na manifestação dos Espíritos, como a Astrologia no movimento dos astros; mas, ignorantes das leis que regem o mundo espiritual, misturavam, com essas relações, práticas e crenças ridículas, com as quais o moderno Espiritismo, fruto da experiência e da observação, acabou. Certamente, a distância que separa o Espiritismo da magia e da feitiçaria é maior do que a que existe entre a Astronomia e a Astrologia, a Química e a Alquimia. Confundi-las é provar que de nenhuma se sabe patavina”.(A Gênese. cap.I, Caráter da Revelação espírita, item 18/19).

         Como podemos ver Kardec é muito claro com relação ao seu respeito pelas ciências naturais, e quanto ao contexto da atuação da doutrina espírita, isto é,  ao elemento espiritual, e  associar afirmações como as do texto, fere um dos pilares fundamentais da doutrina espírita, o bom senso:
“Os defensores destas capacidades transcendentais deste órgão”.
“consideram-no como uma antena”
 “Segundo esta teoria, estes cristais vibram conforme as ondas eletromagnéticas que captassem”.
“Esta teoria pretende explicar fenômenos paranormais como a clarividência, a telepatia e a mediunidade”.

         Todas as afirmações feitas sob égide da ciência devem se mostrar dignas desta proteção. Como demonstrar as capacidades transcendentais de uma glândula? Como medir a frequência de ressonância dos cristais de apatita desta glândula? Qual a amplitude destas freqüências? Como demonstrar que são ondas eletromagnéticas os pensamentos de um espírito?

         Afirmar tais hipóteses e tentar justificá-las com termos científicos inadequadamente utilizados é uma afronta aos verdadeiros cientistas e serve apenas para afastá-los de qualquer estudo sério que por ventura se vier a fazer.

E quanto a André Luiz?...

Rubáiyat de Omar Khayyam II

Rubáiyát 1


Ó Allah, 
incerto, vacilante, 
sem rumo,
inteiramente desorientado, não consigo provar
a realidade do Teu ser.


Profundas meditações,
trabalhosas lucubrações
são simples devaneios,
pesquisas no vácuo
em busca da tua existência,
que não consigo vislumbrar.


Em sã consciência, 
não posso compreender
de que modo Tu existes,
embora muita gente
consagre e descreva
os mais fantasiosos predicados
que Te resolveram emprestar.


A conclusão de tudo isso
é que ninguém Te poderá conhecer
-com exceção de Ti mesmo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A Pineal e a Mediunidade II

A Pineal e a Mediunidade II

Dando prosseguimento ao post anterior, onde comentávamos a página http://pt.wikipedia.org/wiki/Gl%C3%A2ndula_pineal, item “A pineal na filosofia e misticismo”, depois de nos depararmos com a proposição de René Descartes, de ser a pineal a sede da alma,  doutrinariamente equivocada como já demonstrado, veremos agora novo estranhamento:

“Além de Descartes, um escritor inglês com o pseudônimo de Lobsang Rampa, entre outros, dedicaram-se ao estudo deste órgão.”

         Há muito que não nos deparavamos com este escritor, foi nossa leitura na adolescência junto com outros esotéricos. Clicando no hyperlink http://pt.wikipedia.org/wiki/Lobsang_Rampa temos:

“Lobsang Rampa, (1910-1981) era o pseudônimo de Cyril Hoskins, escritor que alegava ter sido um Lama Tibetano; com 20 livros publicados. No seu livro chamado A Terceira Visão, apresenta uma capa com um olho no centro da testa. Muitas polêmicas cercam o autor.Viveu a maior parte da sua vida no Tibete, onde adquiriu conhecimento suficiente para poder transmitir aos futuros leitres. Suas obras relatam toda a sua trajetória de vida, tudo é revelado pela "Transmigração" (a alma de um Lama se apossara do seu corpo físico, quando adulto, tomando a sua individualidade). Este foi o caso de Cyril Henry Hoskins e após a Transmigração, Sacerdote Lama Tibetano, chamado T. Lobsang Rampa. Seus livros popularizaram assuntos relacionados ao Lamaísmo Tibetano, viagem astral e o poder da mente….”

“O Médico de Lhasa (Doctor from Lhasa, 1959)
No livro, o autor afirmava ter nascido em Lhasa, capital do Tibete, onde recebeu o preparo para tornar-se sacerdote-cirurgião, sob as bênçãos do XIII Dalai Lama. Ainda jovem, sofreu uma operação especial para a abertura do seu "terceiro olho", que lhe deu poderes de clarividência. Anos mais tarde, após uma série de livros publicados, estudantes tibetanos da Inglaterra divulgaram a "descoberta" da verdadeira identidade de Rampa: Cyril Henry Hoskins, um pesquisador das ciências ocultas nascido em Devon, na Inglaterra. Questionado, Cyril declarou que seu corpo fora tomado pelo espírito de Rampa e que todas as informações contidas eram absolutamente verdadeiras. Polêmicas à parte, é evidente o conhecimento que o autor demonstra sobre os temas abordados em suas obras. Em "O Médico de Lhasa", continuação de sua autobiografia, Lobsang Rampa narra sua fantástica aprendizagem na arte de curar, suas experiências e descobertas na China ocidental e suas aventuras na Segunda Guerra Mundial, quando caiu nas mãos dos japoneses e conseguiu sobreviver às torturas afligidas por seus inimigos.”

“Minha Vida com o Lama (Living with the Lama, 1964)
Uma parte da biografia de Rampa, narrada por sua gata de estimação, com a qual ele dizia poder comunicar-se.”

         Corpo tomado pela alma de um lama?
         Operação especial para a abertura do terceiro olho?
         Poderia se comunicar com sua gata?

         Não perderemos tempo em comentar esses absurdos doutrinários, qualquer referência à pineal feita nestes livros de Lobsang Rampa será muito duvidosa e um exercício imenso em se separar o joio do trigo, já temos muito com o que nos preocupar...

         Notamos com esta leitura da wikipédia, tão utilizada ferramenta para termos um primeiro contato com os mais variados assuntos, que a pineal está cercada de idéias místicas e de velhos conceitos filosóficos, vejamos como a doutrina espírita é abordada...

sábado, 13 de novembro de 2010

A Pineal e a Mediunidade I

Ao utilizarmos o site de pesquisa “Google” para nos informarmos a respeito da “pineal”, encontramos como primeiro resultado a página: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gl%C3%A2ndula_pineal, e se a acessássemos, nos depararíamos com o item: “A pineal na filosofia e misticismo”, neste item, de imediato veríamos a referência a uma proposição do filósofo RENÉ DESCARTES que defende a idéia de que seria a pineal a sede da alma, afirmação totalmente contraditória em relação à doutrina espírita, como podemos comprovar na questão 146 de “O Livro dos Espíritos”:

146. A alma tem, no corpo, sede determinada e circunscrita?
“Não; porém, nos grandes gênios, em todos os que pensam muito, ela reside mais particularmente na cabeça, ao passo que ocupa principalmente o coração naqueles que muito sentem e cujas ações têm todas por objeto a Humanidade.”
a) — Que se deve pensar da opinião dos que situam a alma num centro vital?
“Quer isso dizer que o Espírito habita de preferência essa parte do vosso organismo, por ser aí o ponto de convergência de todas as sensações. Os que a situam no que consideram o centro da vitalidade, esses a confundem com o fluido ou princípio vital. Pode, todavia, dizer-se que a sede da alma se encontra especialmente nos órgãos que servem para as manifestações intelectuais e morais.”

         Ainda mais preciso foi, ao nosso ver, o dr. Iso Jorge em artigo publicado em http://www.espirito.org.br/portal/artigos/iso-jorge/da-glandula-pineal.html, destacamos deste artigo o parágrafo seguinte:

O filósofo RENÉ DESCARTES, este sim, defendeu a tese de que na pineal estaria a sede da alma... Nos últimos dos seus trabalhos publicados durante sua vida, saiu a lume, em novembro de 1649, poucos meses antes de sua morte (cf. IVAN LINS. DESCARTES – Época, vida e Obra. Liv. São José Edit., 2 ed., Rio de Janeiro – GB, 1964, p. 340). Esta última obra foi intitulada Tratado das Paixões da Alma. Aqui e numa carta a MEYSSONIER, médico de Lyon, disse DESCARTES sobre a pineal:

“A razão que me leva a crer seja essa glândula a sede da alma é não encontrar, em todo o cérebro, nenhuma outra parte que não seja dupla [grifos nossos]. Ora, não vendo senão uma única cousa com os dois olhos, não ouvindo senão um mesmo som com os dois ouvidos, e, enfim, não tendo nunca senão um pensamento ao mesmo tempo, é absolutamente necessário que as impressões, que nos chegam através dos olhos, dos ouvidos, etc., se unam em alguma parte do corpo para serem aí consideradas pela alma.”

E o grande filósofo conclui a sua argumentação:

“Ora, não podemos encontrar nenhuma outra nestas condições, em toda a cabeça, senão a glândula pineal, que se acha, além do mais na situação mais adequada para esse fim, isto é, no meio, entre todas as concavidades, sustentada e cercada por pequenas ramificações das carótidas, que trazem os espíritos (a) ao cérebro”.

(a)- Os espíritos, na concepção de DESCARTES, eram as partes mais sutis e voláteis do sangue (cf. op. cit., p. 341).
Enfim, as idéias de RENÉ DESCARTES, apesar de arrojadas para o seu tempo, baseadas anatomicamente, demonstram que o grande sábio errou redondamente, pois sabemos hoje que a glândula pineal não é a única que não é dupla, pois também a HIPÓFISE também é ímpar,única, no centro do cérebro... A propósito, disse JULES SOURY sobre DESCARTES neste particular:
“Tal sábio pode ter errado, tanto quanto Aristóteles, no atinente à sede da alma. Fez, contudo mais, a propósito da teoria das sensações, das paixões e da inteligência, do que os mais exatos anatomistas e os fisiologistas de qualquer tempo.” (cf. op. cit., p. 340).
Portanto, prezados confrades, a tese dos filósofos citados quanto à localização da sede da alma não têm nenhuma sustentação na realidade anatômica nem fisiológica, erraram os filósofos neste particular... (Da Glândula Pineal à Sensibilidade Espiritual (II) Iso Jorge Teixeira, http://www.espirito.org.br/portal/artigos/iso-jorge/da-glandula-pineal.html)

Como podemos ver a pineal como sede da alma já é um mau começo, proposição muito difundida e doutrinariamente incorreta, mas infelizmente o equívoco pode ser ainda maior, como veremos...

 



sábado, 6 de novembro de 2010

Afinal, mediunidade é faculdade orgânica ou espiritual? Conclusão.

Acreditamos que agora temos o suficiente para respondermos à pergunta título do primeiro post: Afinal, mediunidade é faculdade orgânica ou espiritual?
Do artigo Sentido Espiritual, apresentado no post anterior, e grifando o que nos parece adequado para nossa exposição, extraímos o parágrafo: Em nossa opinião seria erro considerar o sonambulismo e a mediunidade como o produto de dois sentidos diferentes, considerando-se que não passam de dois efeitos resultantes de uma mesma causa. Essa dupla faculdade é um dos atributos da alma e tem por órgão o perispírito, cuja irradiação transporta a percepção além dos limites da ação dos sentidos materiais. A bem dizer é o sexto sentido, que é designado sob o nome de sentido espiritual.

Assim exposto é inequívoca a conclusão: A mediunidade é uma faculdade espiritual (alma) e seu órgão é o perispírito.

Ainda mais, todos os homens a possuem como apresentado por Kardec no artigo em questão.

Por ter como órgão o perispírito, o diagnóstico da mediunidade não é possível pela análise da ciência humana, que ainda não possui condições tecnológicas para pesquisar o corpo fluídico (perispírito), e nem descobrir a sua fisiologia.

Desta maneira nos é despertada a curiosidade sobre a influência do organismo material sobre as faculdades. podemos encontrar em Kardec maiores elucidações. Lembramos O Livro dos Espíritos, pergunta 368 e 369:

368. Após sua união com o corpo, exerce o Espírito, com liberdade plena, suas faculdades?
“O exercício das faculdades depende dos órgãos que lhes servem de instrumento. A grosseria da matéria as enfraquece.”
a) — Assim, o invólucro material é obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um vidro opaco o é à livre irradiação da luz?
“É, como vidro muito opaco.”
Pode-se comparar a ação que a matéria grosseira exerce sobre o Espírito à de um charco lodoso sobre um corpo nele mergulhado, ao qual tira a liberdade dos movimentos.


369. O livre exercício das faculdades da alma está subordinado ao desenvolvimento dos órgãos?
“Os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma, manifestação que se acha subordinada ao desenvolvimento e ao grau de perfeição dos órgãos, como a excelência de um trabalho o está à da ferramenta própria à sua execução.”
        
370. Da influência dos órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento dos do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais?
 “Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”
a) — Dever-se-á deduzir daí que a diversidade das aptidões entre os homens deriva unicamente do estado do Espírito?
“O termo — unicamente — não exprime com toda a exatidão o que ocorre. O princípio dessa diversidade reside nas qualidades do Espírito, que pode ser mais ou menos adiantado. Cumpre, porém, se leve em conta a influência da matéria, que mais ou menos lhe cerceia o exercício de suas faculdades.”

Encarnando, traz o Espírito certas predisposições e, se se admitir que a cada uma corresponda no cérebro um órgão, o desenvolvimento desses órgãos será efeito e não causa. Se nos órgãos estivesse o princípio das faculdades, o homem seria máquina sem livre-arbítrio e sem a responsabilidade de seus atos.
Forçoso então fora admitir-se que os maiores gênios, os sábios, os poetas, os artistas, só o são porque o acaso lhes deu órgãos especiais, donde se seguiria que, sem esses órgãos, não teriam sido gênios e que, assim, o maior dos imbecis houvera podido ser um Newton, um Vergílio, ou um Rafael, desde que de certos órgãos se achassem providos. Ainda mais absurda se mostra semelhante hipótese, se a aplicarmos às qualidades morais. Efetivamente, segundo esse sistema, um Vicente de Paulo, se a Natureza o dotara de tal ou tal órgão, teria podido ser um celerado e o maior dos celerados não precisaria senão de um certo órgão para ser um Vicente de Paulo. Admita-se, ao contrário, que os órgãos especiais, dado existam, são conseqüentes, que se desenvolvem por efeito do exercício da faculdade, como os músculos por efeito do movimento, e a nenhuma conclusão irracional se chegará. Sirvamo-nos de uma comparação, trivial à força de ser verdadeira. Por alguns sinais fisionômicos se reconhece que um homem tem o vício da embriaguez. Serão esses sinais que fazem dele um ébrio, ou será a ebriedade que nele imprime aqueles sinais? Pode dizer-se que os órgãos recebem o cunho das faculdades.

Vejamos agora a afirmação de André Luiz:
“No exercício mediúnico de qualquer modalidade, a epífise desempenha o papel mais importante. Através de suas forças equilibradas, a mente humana intensifica o poder de emissão e recepção de raios peculiares à nossa esfera. É nela, na epífise, que reside o sentido novo dos homens; entretanto, na grande maioria deles, a potência divina dorme embrionária.” (Missionários da Luz, capítulo I, O psicógrafo.)

Haverá uma contradição entre Kardec e André Luiz? Veremos que não...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

V Afinal, mediunidade é faculdade orgânica ou faculdade espiritual?

Continuação de: O Sentido Espiritual,publicado por Kardec na Revista Espírita, junho de 1867, como resposta a carta do correspondente doutor Gregóry:


 A vista espiritual, vulgarmente chamada dupla vista ou segunda vista, é um fenômeno menos raro do que se pensa; muitas pessoas têm esta faculdade sem o suspeitar; apenas é mais ou menos acentuada, e é fácil certificar-se de que ela é estranha aos órgãos da visão, pois que se exerce sem o auxílio desses órgãos e até os cegos a possuem. Existe em certas pessoas no mais perfeito estado normal, sem o menor traço aparente de sono nem de estado estático. Conhecemos em Paris uma senhora na qual ela é permanente, e tão natural quanto a vista ordinária; ela vê sem esforço e sem concentração o caráter, os hábitos, os antecedentes de quem quer que dela se aproxime; descreve as doenças e prescreve tratamentos eficazes com mais facilidade que muitos sonâmbulos ordinários; basta pensar numa pessoa ausente para que a veja e a designe. Um dia estávamos em sua casa e vimos passar na rua alguém com quem temos relações, e que ela jamais tinha visto.
Sem ser provocada por qualquer pergunta, fez-lhe o mais exato retrato moral e nos deu a seu respeito conselhos muito sensatos.E, contudo, essa senhora não é sonâmbula. Fala do que vê, como falaria de qualquer outra coisa, sem se desviar de suas ocupações. É médium? Ela mesma não sabe, porque até pouco
tempo atrás nem mesmo conhecia de nome o Espiritismo. Assim, nela essa faculdade é tão natural e tão espontânea quanto possível.
Como ela percebe, senão pelo sentido espiritual?
Devemos acrescentar que essa senhora tem fé nos sinais da mão, examinando-a quando a interrogam e dizendo aí ver o indício das doenças. Como vê certo e é evidente que muitas das coisas que diz não podem ter nenhuma relação fisiológica com a mão, estamos persuadidos de que para ela é simplesmente um meio de se pôr em relação e desenvolver sua vista, fixando-a num ponto determinado; a mão faz o papel de espelho mágico ou psíquico; ela aí  vê como outros vêem num vaso, numa garrafa ou noutro objeto.
Sua faculdade tem muita relação com a do Vidente da floresta de Zimmerwald, mas lhe é superior em certos aspectos. Aliás, como não tira disto nenhum proveito, esta consideração afasta toda suspeita de charlatanismo e, considerando-se que dela só se serve para prestar serviço, deve ser assistida por Espíritos bons. (Vide a Revista de outubro de 1864: O sexto sentido e a visão espiritual; outubro de 1865: Novos estudos sobre os espelhos psíquicos. O vidente da floresta de Zimmerwald ).

IV Afinal, mediunidade é faculdade orgânica ou faculdade espiritual

         Como ficou sugerido pelas observações anteriores que a mediunidade seria uma faculdade espiritual, e que haveria uma afirmação literal feita por Kardec a este respeito, postamos agora o artigo: O Sentido Espiritual, publicado por Kardec na Revista Espírita, junho de 1867, como resposta a carta do correspondente doutor Gregóry, vejamos com atenção:

(Observação do blog:A carta do doutor Gregóry esta entre aspas e a resposta de Kardec não.)

 

O Sentido Espiritual

Uma segunda carta do doutor Gregóry contém o seguinte:
“Numa comunicação, Erasto enunciou uma idéia que me surpreendeu e me fez refletir. O homem, diz ele, tem sete sentidos: os sentidos bem conhecidos da audição, do olfato, da visão, do gosto e do tato e, além destes, o sentido sonambúlico e o sentido mediúnico”.
“Acrescento a estas palavras que estes dois últimos não existem senão por exceção, bastante desenvolvidos nalgumas naturezas privilegiadas, caso existam em todo homem em estado rudimentar. Ora, há em mim uma convicção adquirida por mais de uma observação e por uma experiência bastante longa dos poderes homeopáticos: é que nossos medicamentos, bem escolhidos e tomados por longo tempo, podem desenvolver essas duas
admiráveis faculdades”.

Em nossa opinião seria erro considerar o sonambulismo e a mediunidade como o produto de dois sentidos diferentes, considerando-se que não passam de dois efeitos resultantes de uma mesma causa. Essa dupla faculdade é um dos atributos da alma e tem por órgão o perispírito, cuja irradiação transporta a percepção além dos limites da ação dos sentidos materiais. A bem dizer é o sexto sentido, que é designado sob o nome de sentido espiritual.

O sonambulismo e a mediunidade são duas variedades da atividade desse sentido que, como se sabe, apresentam inúmeros matizes e constituem aptidões especiais. Fora destas duas faculdades, mais notáveis porque mais aparentes, seria erro crer que o sentido espiritual não exista senão em estado rudimentar. Como os outros sentidos, é mais ou menos desenvolvido, ou mais ou menos sutil conforme os indivíduos, mas todo o mundo o possui, e não é o que presta menos serviços, pela natureza toda especial das percepções das quais é a fonte. Longe de ser a regra, sua atrofia é exceção, e pode ser considerada como uma enfermidade, assim como a ausência da vista ou da audição. É por este sentido que recebemos os eflúvios fluídicos dos Espíritos, que nos inspiramos, mau grado nosso, em seus pensamentos, que nos são dados os avisos íntimos da consciência, que temos o pressentimento e a intuição das coisas futuras ou ausentes, que se exercem a fascinação, a ação magnética inconsciente e involuntária, a penetração do pensamento, etc. Essas percepções são dadas ao homem pela Providência, assim como a visão, a audição, o olfato, o gosto e o tato, para a sua conservação; são fenômenos muito vulgares, que ele apenas os nota pelo hábito que tem de os experimentar, e dos quais não se deu conta até hoje, devido sua ignorância das leis do princípio espiritual, da própria negação, em alguns, da existência desse princípio. Mas, quem quer que leve sua atenção sobre os efeitos que acabamos de citar, e sobre muitos outros da mesma natureza, reconhecerá quanto eles são frequentes como são completamente independentes das sensações percebidas pelos órgãos do corpo. 

III Afinal, mediunidade é faculdade orgânica ou faculdade espiritual

Analisando com cuidado devemos observar que os espíritos e o próprio Kardec, chamam a mediunidade de faculdade, (la faculté proprement dite tient à l'organisme), e é na codificação de Kardec que encontramos maior detalhamento das faculdades mediúnicas, vejamos:

62. Nenhum indício há pelo qual se reconheça a existência da faculdade mediúnica. Só a experiência pode revelá-la. (capítulo II Das manifestações físicas.Das mesas girantes, o Livro dos Médiuns,FEB).
        Podemos inferir, deste item acima exposto, que não existe a possibilidade de diagnóstico positivo ou negativo quanto a existência da mediunidade, em qualquer pessoa, antes de realizarmos tentativas, e mesmo no fracasso dos intentos não podemos afirmar a sua inexistência.

26ª De que depende, para o homem, a faculdade de ver os Espíritos, em estado de vigília? “Depende da organização física. Reside na maior ou menor facilidade que tem o fluido do vidente para se combinar com o do Espírito. Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se, é preciso também que encontre a necessária aptidão na pessoa a quem deseje fazer-se visível.” (capítulo VI Das manifestações visuais.O Livro dos Médiuns,FEB).
         Neste ponto destacamos a dependência da organização física, e da facilidade da combinação fluídica entre o médium e o espírito comunicante.

20ª Os que vêem os Espíritos vêem-nos com os olhos? “Assim o julgam; mas, na realidade, é a alma quem vê e o que o prova é que os podem ver com os olhos fechados.” (pág 136, capítulo VI Das manifestações visuais.O Livro dos Médiuns ,FEB).
Do item acima, nos deparamos com a afirmação de que a vidência é faculdade da alma e não do corpo físico.

Dirão, porventura, os alucinacionistas que a alma (se é que admitem uma alma) tem momentos de sobreexcitação em que suas faculdades se exaltam. Estamos de acordo; porém, quando é real o que ela vê, não há ilusão. Se, na sua exaltação, a alma vê uma coisa que não está presente, é que ela se transporta; mas, se nossa alma pode transportar-se para junto de uma pessoa ausente, por que não poderia a alma dessa pessoa transportar-se para junto de nós? Dignem-se eles de levar em conta estes fatos, na sua teoria da alucinação, e não esqueçam que uma teoria a que se podem opor fatos que a contrariam é necessariamente falsa, ou incompleta. (pág 148, capítulo VI Das manifestações visuais.O Livro dos Médiuns ,FEB).

         Vemos neste momento a concordância, entre Kardec e os alucinacionistas, (assim chamados os que explicam como sendo alucinação a causa dos fenômenos mediúnicos), sobre a existência das faculdades da alma.

159. Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. (pág 139, capítulo XIV Os Médiuns.O Livro dos Médiuns ,FEB).
Os médiuns facultativos são os que têm consciência do seu poder e que produzem fenômenos espíritas por ato da própria vontade. Conquanto inerente à espécie humana, conforme já dissemos, semelhante faculdade longe está de existir em todos no mesmo grau. Porém, se poucas pessoas há em quem ela seja absolutamente nula, mais raras ainda são as capazes de produzir os grandes efeitos tais como a suspensão de corpos pesados, a translação aérea e, sobretudo, as aparições. (pág 204, capítulo XIV Os Médiuns.O Livro dos Médiuns ,FEB).
         Destacamos agora, nestes dois parágrafos acima, a natureza humana da faculdade mediúnica, pois, inerente é por definição: (O que está por natureza inseparavelmente ligado a alguma pessoa ou coisa). Sendo assim faz parte dos atributos do homem, sendo raros os que não apresentem sequer traços de sua existência.



Para alcançá-lo, preciso é que o indivíduo passe do estado de médium natural ao de médium voluntário. Produz-se, então, efeito análogo ao que se observa no sonambulismo. Como se sabe, o sonambulismo natural cessa geralmente, quando substituído pelo sonambulismo magnético. Não se suprime a faculdade, que tem a alma, de emancipar-se; dá-se-lhe outra diretriz. O mesmo acontece com a faculdade mediúnica. (pág 207, capítulo XIV Os Médiuns.O Livro dos Médiuns ,FEB).
         Note-se que Kardec compara o sonambulismo com a mediunidade, e ainda registra a faculdade da alma de emancipar-se.

172. Pode considerar-se o sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica, ou, melhor, são duas ordens de fenômenos que freqüentemente se acham reunidos. O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; é sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. (pág 215, capítulo XIV Os Médiuns.O Livro dos Médiuns,FEB).
         Afirmação bastante interessante, pois, coloca o sonambulismo e a mediunidade como fenômenos que ocorreriam, com frequência, juntos.

 174. A lucidez sonambúlica é uma faculdade que se radica no organismo e que independe, em absoluto, da elevação, do adiantamento e mesmo do estado moral do indivíduo. (pág 216, capítulo XIV Os Médiuns.O Livro dos Médiuns ,FEB).
          Vemos agora a mesma argumentação usada pelos espíritos quando da pergunta da dependência do desenvolvimento da mediunidade em relação ao adiantamento moral do médium.

c) Um autor, um pintor, um músico, por exemplo, poderiam, nos momentos de inspiração, ser considerados médiuns? “Sim, porquanto, nesses momentos, a alma se lhes torna mais livre e como que desprendida da matéria; recobra uma parte das suas faculdades de Espírito e recebe mais facilmente as comunicações dos outros Espíritos que a inspiram.” (pág 225, capítulo XV Dos médiuns escreventes.O Livro dos Médiuns ,FEB).
         Indicação clara de que é o desdobramento que possibilita à alma do médium utilizar sua faculdades espirituais.


209. No médium aprendiz, a fé não é a condição rigorosa; sem dúvida lhe secunda os esforços, mas não é indispensável; a pureza de intenção, o desejo e a boa vontade bastam. Têm-se visto pessoas inteiramente incrédulas ficarem espantadas de escrever a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que esta faculdade se prende a uma disposição orgânica. (pág 252, capítulo XVII Da formação dos médiuns.O Livro dos Médiuns ,FEB).
         Vemos agora, novamente, que a faculdade mediúnica se prende a disposições orgânicas.

Afinal, haveria nos escritos de Kardec uma afirmação literal, sem deixar dúvidas, de que a mediunidade seja faculdade da alma e não do organismo?

Sim, existe...