quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Esta estranha palavra moral I.


Acredito que, quando lemos Kardec, nem sempre nos lembramos de estarmos lidando com uma tradução do francês e, portanto, entregues aos cuidados dos tradutores.

         Felizmente os tradutores das obras básicas apresentam  uma boa qualidade linguística e doutrinária, por exemplo José Herculano Pires e Guillon Ribeiro, sem, nestas citações, menosprezar os demais tradutores.

         Mas nem por isso estamos livres de divergências nas traduções que podem gerar problemas doutrinários.

         Por exemplo, a palavra moral.

         Escreve Herculano Pires, em seu “Mediunidade. Conceituação da Mediunidade e Análise dos seus Problemas Atuais”. No capítulo IX, página 70 da 4a edição, 1997:
“O moral, mais acentuadamente na língua francesa do que na portuguesa, representa o conjunto das atividades mentais e psíquicas da criatura”.

Vamos recorrer ao dicionário “Novo Aurélio”:
Moral [do lat. Morale, ‘relativo aos bons costumes’]
s.f. 1. Filos. Conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada. 2. Conclusão moral que se tira de uma obra, de um fato, etc. 3. s.m. O conjunto de nossas faculdades morais; brio, vergonha. 4. O que há de moralidade em qualquer coisa. 5. adj de 2g. Relativo ao domínio espiritual (em oposição a físico ou material).

Neste capítulo, acima referido, ainda temos:
“Quanto à ligação da mediunidade com o corpo, que muitos espíritas não entenderam, confundindo-a com uma suposta origem orgânica da mediunidade, trata-se de coisa muito diferente disso. A mediunidade está ligada ao corpo pelo espírito que a ele se liga, mas não pertence ao corpo e sim ao perispírito que enquanto estivermos encarnados faz parte do corpo e permite a ligação do espírito comunicante com o perispírito do médium”.

Mas quando esta suposta confusão, (mediunidade é orgânica ou espiritual?), teria se estabelecido? Não sabemos responder com certeza, mas podemos afirmar que o  próprio Herculano Pires teve sua parte neste imbróglio!

Vejamos, de sua tradução, 21a edição, junho de 1999,  de “O livro dos Médiuns”, capítulo XX – Influência Moral do Médium:
226-1. O desenvolvimento da mediunidade se processa na razão do desenvolvimento moral do médium?
–Não. A faculdade propriamente dita é orgânica, e portanto independe da moral. Mas já não acontece o mesmo com o seu uso, que pode ser bom ou mau, segundo as qualidades do médium.

Como podemos ver, Herculano Pires condena a sua própria tradução.

Onde Herculano Pires teria errado? Em sua tradução ou em seu “Mediunidade. Conceituação da Mediunidade e Análise dos seus Problemas Atuais”?

continua...



Nenhum comentário:

Postar um comentário