terça-feira, 2 de novembro de 2010

V Afinal, mediunidade é faculdade orgânica ou faculdade espiritual?

Continuação de: O Sentido Espiritual,publicado por Kardec na Revista Espírita, junho de 1867, como resposta a carta do correspondente doutor Gregóry:


 A vista espiritual, vulgarmente chamada dupla vista ou segunda vista, é um fenômeno menos raro do que se pensa; muitas pessoas têm esta faculdade sem o suspeitar; apenas é mais ou menos acentuada, e é fácil certificar-se de que ela é estranha aos órgãos da visão, pois que se exerce sem o auxílio desses órgãos e até os cegos a possuem. Existe em certas pessoas no mais perfeito estado normal, sem o menor traço aparente de sono nem de estado estático. Conhecemos em Paris uma senhora na qual ela é permanente, e tão natural quanto a vista ordinária; ela vê sem esforço e sem concentração o caráter, os hábitos, os antecedentes de quem quer que dela se aproxime; descreve as doenças e prescreve tratamentos eficazes com mais facilidade que muitos sonâmbulos ordinários; basta pensar numa pessoa ausente para que a veja e a designe. Um dia estávamos em sua casa e vimos passar na rua alguém com quem temos relações, e que ela jamais tinha visto.
Sem ser provocada por qualquer pergunta, fez-lhe o mais exato retrato moral e nos deu a seu respeito conselhos muito sensatos.E, contudo, essa senhora não é sonâmbula. Fala do que vê, como falaria de qualquer outra coisa, sem se desviar de suas ocupações. É médium? Ela mesma não sabe, porque até pouco
tempo atrás nem mesmo conhecia de nome o Espiritismo. Assim, nela essa faculdade é tão natural e tão espontânea quanto possível.
Como ela percebe, senão pelo sentido espiritual?
Devemos acrescentar que essa senhora tem fé nos sinais da mão, examinando-a quando a interrogam e dizendo aí ver o indício das doenças. Como vê certo e é evidente que muitas das coisas que diz não podem ter nenhuma relação fisiológica com a mão, estamos persuadidos de que para ela é simplesmente um meio de se pôr em relação e desenvolver sua vista, fixando-a num ponto determinado; a mão faz o papel de espelho mágico ou psíquico; ela aí  vê como outros vêem num vaso, numa garrafa ou noutro objeto.
Sua faculdade tem muita relação com a do Vidente da floresta de Zimmerwald, mas lhe é superior em certos aspectos. Aliás, como não tira disto nenhum proveito, esta consideração afasta toda suspeita de charlatanismo e, considerando-se que dela só se serve para prestar serviço, deve ser assistida por Espíritos bons. (Vide a Revista de outubro de 1864: O sexto sentido e a visão espiritual; outubro de 1865: Novos estudos sobre os espelhos psíquicos. O vidente da floresta de Zimmerwald ).

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