terça-feira, 2 de novembro de 2010

III Afinal, mediunidade é faculdade orgânica ou faculdade espiritual

Analisando com cuidado devemos observar que os espíritos e o próprio Kardec, chamam a mediunidade de faculdade, (la faculté proprement dite tient à l'organisme), e é na codificação de Kardec que encontramos maior detalhamento das faculdades mediúnicas, vejamos:

62. Nenhum indício há pelo qual se reconheça a existência da faculdade mediúnica. Só a experiência pode revelá-la. (capítulo II Das manifestações físicas.Das mesas girantes, o Livro dos Médiuns,FEB).
        Podemos inferir, deste item acima exposto, que não existe a possibilidade de diagnóstico positivo ou negativo quanto a existência da mediunidade, em qualquer pessoa, antes de realizarmos tentativas, e mesmo no fracasso dos intentos não podemos afirmar a sua inexistência.

26ª De que depende, para o homem, a faculdade de ver os Espíritos, em estado de vigília? “Depende da organização física. Reside na maior ou menor facilidade que tem o fluido do vidente para se combinar com o do Espírito. Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se, é preciso também que encontre a necessária aptidão na pessoa a quem deseje fazer-se visível.” (capítulo VI Das manifestações visuais.O Livro dos Médiuns,FEB).
         Neste ponto destacamos a dependência da organização física, e da facilidade da combinação fluídica entre o médium e o espírito comunicante.

20ª Os que vêem os Espíritos vêem-nos com os olhos? “Assim o julgam; mas, na realidade, é a alma quem vê e o que o prova é que os podem ver com os olhos fechados.” (pág 136, capítulo VI Das manifestações visuais.O Livro dos Médiuns ,FEB).
Do item acima, nos deparamos com a afirmação de que a vidência é faculdade da alma e não do corpo físico.

Dirão, porventura, os alucinacionistas que a alma (se é que admitem uma alma) tem momentos de sobreexcitação em que suas faculdades se exaltam. Estamos de acordo; porém, quando é real o que ela vê, não há ilusão. Se, na sua exaltação, a alma vê uma coisa que não está presente, é que ela se transporta; mas, se nossa alma pode transportar-se para junto de uma pessoa ausente, por que não poderia a alma dessa pessoa transportar-se para junto de nós? Dignem-se eles de levar em conta estes fatos, na sua teoria da alucinação, e não esqueçam que uma teoria a que se podem opor fatos que a contrariam é necessariamente falsa, ou incompleta. (pág 148, capítulo VI Das manifestações visuais.O Livro dos Médiuns ,FEB).

         Vemos neste momento a concordância, entre Kardec e os alucinacionistas, (assim chamados os que explicam como sendo alucinação a causa dos fenômenos mediúnicos), sobre a existência das faculdades da alma.

159. Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. (pág 139, capítulo XIV Os Médiuns.O Livro dos Médiuns ,FEB).
Os médiuns facultativos são os que têm consciência do seu poder e que produzem fenômenos espíritas por ato da própria vontade. Conquanto inerente à espécie humana, conforme já dissemos, semelhante faculdade longe está de existir em todos no mesmo grau. Porém, se poucas pessoas há em quem ela seja absolutamente nula, mais raras ainda são as capazes de produzir os grandes efeitos tais como a suspensão de corpos pesados, a translação aérea e, sobretudo, as aparições. (pág 204, capítulo XIV Os Médiuns.O Livro dos Médiuns ,FEB).
         Destacamos agora, nestes dois parágrafos acima, a natureza humana da faculdade mediúnica, pois, inerente é por definição: (O que está por natureza inseparavelmente ligado a alguma pessoa ou coisa). Sendo assim faz parte dos atributos do homem, sendo raros os que não apresentem sequer traços de sua existência.



Para alcançá-lo, preciso é que o indivíduo passe do estado de médium natural ao de médium voluntário. Produz-se, então, efeito análogo ao que se observa no sonambulismo. Como se sabe, o sonambulismo natural cessa geralmente, quando substituído pelo sonambulismo magnético. Não se suprime a faculdade, que tem a alma, de emancipar-se; dá-se-lhe outra diretriz. O mesmo acontece com a faculdade mediúnica. (pág 207, capítulo XIV Os Médiuns.O Livro dos Médiuns ,FEB).
         Note-se que Kardec compara o sonambulismo com a mediunidade, e ainda registra a faculdade da alma de emancipar-se.

172. Pode considerar-se o sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica, ou, melhor, são duas ordens de fenômenos que freqüentemente se acham reunidos. O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; é sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. (pág 215, capítulo XIV Os Médiuns.O Livro dos Médiuns,FEB).
         Afirmação bastante interessante, pois, coloca o sonambulismo e a mediunidade como fenômenos que ocorreriam, com frequência, juntos.

 174. A lucidez sonambúlica é uma faculdade que se radica no organismo e que independe, em absoluto, da elevação, do adiantamento e mesmo do estado moral do indivíduo. (pág 216, capítulo XIV Os Médiuns.O Livro dos Médiuns ,FEB).
          Vemos agora a mesma argumentação usada pelos espíritos quando da pergunta da dependência do desenvolvimento da mediunidade em relação ao adiantamento moral do médium.

c) Um autor, um pintor, um músico, por exemplo, poderiam, nos momentos de inspiração, ser considerados médiuns? “Sim, porquanto, nesses momentos, a alma se lhes torna mais livre e como que desprendida da matéria; recobra uma parte das suas faculdades de Espírito e recebe mais facilmente as comunicações dos outros Espíritos que a inspiram.” (pág 225, capítulo XV Dos médiuns escreventes.O Livro dos Médiuns ,FEB).
         Indicação clara de que é o desdobramento que possibilita à alma do médium utilizar sua faculdades espirituais.


209. No médium aprendiz, a fé não é a condição rigorosa; sem dúvida lhe secunda os esforços, mas não é indispensável; a pureza de intenção, o desejo e a boa vontade bastam. Têm-se visto pessoas inteiramente incrédulas ficarem espantadas de escrever a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que esta faculdade se prende a uma disposição orgânica. (pág 252, capítulo XVII Da formação dos médiuns.O Livro dos Médiuns ,FEB).
         Vemos agora, novamente, que a faculdade mediúnica se prende a disposições orgânicas.

Afinal, haveria nos escritos de Kardec uma afirmação literal, sem deixar dúvidas, de que a mediunidade seja faculdade da alma e não do organismo?

Sim, existe...

Nenhum comentário:

Postar um comentário